quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Étiquette1 do mundo contemporâneo

  Vivemos em um mundo em que tudo precisa ser bonitinho, certinho. É preciso andar correto, andar nas linhas e ter as rédeas sociais bem aprumadas - de modo a não escapar louco por aí. Do que estou a falar, leitor? Já te mastigo o assunto, aguenta aí.
  Estava eu caminhando pelas páginas da web quando me deparei com um artigo que falava sobre expressões racistas, as quais deveríamos tirar de nosso quotidiano. Claro que fui de acordo com o tema optado, afinal sei bem que o país sofreu mais de 300 anos de escravidão, e que muitos foram os estigmas que acabaram implantados. E tais marcas ainda permanecem, com bastante clareza quando paramos para analisar que tudo o que é relacionado ao preto é ruim ou faz mal. "Serviço de preto", "galinha preta da macumba", "Não sou tuas negas" e muitos mais termos designam a nossa sobrepujância para os lados do racismo. Do etnocentrismo, para se adequar melhor. Contudo, o que me chamou a atenção ao artigo foi o fato de que a sociedade, louca como já o é, anda se enredando por ruas de desesperada fragilidade. Já definho, segure as pontas.
  Somos frágeis bonecos humanos dentro de redomas de cristal, vivendo as nossas frágeis vidas de dias solitários e ignorantes. Frase forte, não? Pois é, a realidade é simples e existente.
  Certa vez li um filósofo, inclusive ele é professor de filosofia numa das mais renomadas universidades brasileiras, e esse senhor dizia que a sociedade atual busca uma falsa base de conceitos a que se apoiar. Do que digo? Sabe, dizem que é preciso ter ética, ou seguir regras de etiqueta. Não podemos mais ser rudes, ou naturais. Temos que a todo o momento controlar os nossos atos, para não sair das comunais aparências robóticas. Seja educado, menino! Fique quieto! Fale baixo! Não xingue! Não use jargões! Não faça nada. Não viva.
Tronco, instrumento de tortura. Um dos três "P" da escravidão.
Fonte: portalbei.com.br
  Daí, o leitor me questiona o que tem o artigo do racismo a ver com isso tudo. E eu respondo: tenho minha cor como preta, embora meus documentos afirmem que sou de etnia parda. E adoro isso. Principalmente esse termo preto, a que muitos têm medo de usar - tem que falar negro, preto é feio falar. E mais, é feio usar "a coisa 'tá preta", "não sou tuas negas" e mais outros termos pois são todos de cunho racista e vão aumentar o racismo. Claro, não sou a favor, em hipótese alguma seria, de que haja aumento no racismo. Afinal eu sofro mais com tudo isso. Porém, acho exagero você ficar se controlando dia após dia, frase após frase, tudo o que vai dizer. Com receio de ferir a outrem.
  Em suma, tenho amigos que me chamam sim de "pretinho", "neguinho", "preto feio" e muitos outros apelidos. E não ligo, porque são meus amigos e estão com a liberdade - eu vou xingar eles de volta, entende? Eu não vou usar nenhum termo racista num vídeo para a internet, ou numa conferência, numa palestra ou quaisquer outros lugares que eu sei existir várias pessoas desconhecidas. Elas podem não gostar, afinal vivem num mundo onde tudo é certinho. Porquanto, devo estar errado, talvez, na minha opinião sobre esse assunto. Não sei, o leitor me diz aí o que acha. Porque se depender de mim eu deixo - alguns seletos amigos - me xingarem do que for, e os xingo de volta. E quando falo assim não me refiro à rodinha dos melhores - que devem ser uns dois - amigos, mas uns que raramente vejo e ainda assim possuem essa liberdade. Não me sinto rebaixado, nem penso estar alimentando o etnocentrismo. Talvez esteja é matando de fome a necessidade dessa população em corrigir cada passo que dou, em fazer um mundo onde tudo é certinho. Robótico.

1. Do francês, etiqueta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe um comentário no meu blog, não custará nada. Às vezes, leitor, é bom expressar nossos pensamentos.