terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Apocalipse - Dia após dia

             Lá fora caía a noite em lentidão, o sol se punha no horizonte e a janela, larga e de um vidro temperado transparente, estendia para dentro a luz amarelo avermelhada produzida no crepúsculo. As águas batiam um pouco distantes e o marulho vinha até meus ouvidos, a vastidão azul era infinda e trazia a glória de um anoitecer perfeito e apaixonante. Diante de mim a solidão. Era dono do mundo, dono de tudo, mas nada em si me pertencia. De que me adiantava possuir terras e mais terras se estava sozinho ali? A solidão me corroía, dia após dia, sem qualquer escrúpulo, sem preocupação. Eu era só e só teria que viver até meus últimos dias. O dinheiro, de nada adiantaria. Se quisesse algo poderia ir ao mercado mais próximo e pegar. Não havia perigo, não havia oposição. Eu era o único sobrevivente da Terra, o único que adormeceu enquanto o mundo se acabava. Aquele que fechou os olhos e deixou, por apenas uns segundos, uns meros instantes que se passaram estalados e incalculados, e deixou de ser julgado. A mim não houve quem dissesse um sim ou um não. Pouco ainda alguém que me marcasse a pele de dores e sentimentos não-meus. Acordava naquele instante e acordava livre. Sabedor de todas as novas coisas. Não havia vida onde eu me encontrava, eu sequer sabia se vivia. Talvez fosse uma alma errante que sobrou aqui, à toa. Jogada assim, sem zelo ou criatura - ou criador - que se inclinasse e me visse ali. Meu sono durou pouco, mas me salvou de muita coisa. Agora, não sei o que virá pela frente. Agora, quiçá crio uma vida só minha. Não tenho muita certeza do que fazer, a única coisa que sei é que a solidão há de me corroer, dia após dia.

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